Acordar cedo e se preparar para a fila. Essa é a rotina de quem precisa frequentar os cartórios de Salvador. Apesar de privatizados, alguns cartórios ainda enfrentam problemas decorrentes de anos de ausência de investimentos.
Com poucos atendentes e muita procura, quem mais sofre são os cidadãos de baixa renda, que muitas vezes se dirigem ao local com uma garrafa de água e a esperança de conseguir uma ficha a tempo.
A vendedora Lourdes Cruz para chegar ao cartório, no Comércio, teve que acordar bem cedo para tirar a segunda via da certidão de nascimento da filha. Lourdes saiu de lá satisfeita, mas relata que muitas outras pessoas não tiveram a mesma sorte.
“Cheguei aqui bem cedo, já sabendo como é a demora nas filas dos cartórios da cidade. Na primeira vez que vim, não consegui ficha para ser atendida, não sabia que fechava tão cedo. Por isso, dessa vez madruguei. Complicado mesmo foi pegar o transporte, já que eu moro em Cazajeiras e se me atrasasse corria o risco de não conseguir a certidão da minha filha. Vi muita gente voltar revoltada, por que não ia ser atendida. Infelizmente, temos que passar por esse tipo de situação, mas eu gostaria muito que isso mudasse, afinal, o valor que pagamos pelos serviços não é barato,” conta Cruz.
O desenhista técnico, David Mateus, passou por situação parecida ao tentar uma habilitação para casamento. “Fui no cartório na Baixa de Sapateiros, o NAJ, fui fazer a habilitação de casamento na semana passada. Levei cerca de 2h30 horas de espera. Quando finalmente fui atendido foi rápido, cerca de 20 minutos pra eles resolverem a questão e encaminharem a outro cartório. O maior problema foi a falta de atendentes suficientes, para a demanda de pessoas. Cerca de cinco atendentes pra 150 pessoas na fila de espera”, relata o desenhista.
De acordo com Mateus, o horário de atendimento dos cartórios, das 08h às 14h, não poderia ser pior. “Isso me frustrou no primeiro dia que tentei fazer esse serviço, pedi liberação do trabalho no período da tarde pra resolver isso, só que só conseguir chegar lá as 13:50 e já não tinha mais ninguém. Por isso, tive que pedir liberação mais uma vez no período da manhã pra resolver o problema e mesmo assim, quando cheguei lá, já tinham muitas pessoas e poucos atendentes”, lamenta.
A coordenadora de eventos, Laura Passos, sofreu na pele com o horário limitado de atendimento dos cartórios. Ao se dirigir ao um dos estabelecimentos, às 14h05 da tarde, e correr todo o prédio, descobriu que os cinco cartórios que funcionavam no edifício, estavam fechados.
“Vim tentar a certidão de óbito da minha mãe, mas não sabia que só funcionava até as 14h. Nunca ouvi falar disso, nem em banco é esse o horário. É uma falta de respeito com as pessoas, que têm seus trabalhos e compromissos agendados. Vou ter que faltar novamente ao meu emprego, dessa vez em outro horário, para resolver isso”, indigna-se Passos.
A equipe da Tribuna da Bahia entrou em contato com o Tribunal de Justiça da Bahia, para saber se existe algum tipo de fiscalização sobre o serviço que os cartórios oferecem. E em caso de haver irregularidades no atendimento qual a punição que os estabelecimentos recebem, e o que usuários devem fazer caso se sintam prejudicados, mas até o fechamento dessa edição, não teve retorno.
Fonte: Tribuna da Bahia
Foto: Reginaldo Ipê